Numa noite de insónias a custo o
sono veio, levando-me e transportando para outras realidades, realidades deste
e de outros mundos. Mundos paralelos que só os vivenciamos em sonhos! Neste
sonho não subi nem desci mundos, encontrava-me em casa acompanhada pela família
na hora de jantar. Na mesa encontrava-se o meu pai, a comentar as noticias do
telejornal, a criticar as inflações e os políticos, depois aborrecendo-se,
passado um momento de silencio… começou a contar as histórias de vida dele
enquanto jovem. Muito atento às suas palavras, estava a minha mãe, que volta e
meia lá retorquia alguma coisa, e eu e os meus irmãos estávamos apenas a ouvir
com vontade apenas de mastigar o assado que até estava delicioso.
Nesse momento algo do meu
consciente me inquieta, e sem ter tempo para pensar, o sonho muda e estou eu
outra vez em casa, mas num espaço de tempo diferente. Olho para mim e reparo
que estou mais crescida, e encontro-me atarefada a preparar uma mala de viagem,
não consigo entender qual o destino da viagem, mas encontrava-me atrasada e o
meu pai estava à minha espera para me levar à estação de comboios e sempre, de
minuto a minuto a alertar-me da hora. Quando dei conta, já me encontrava no
carro com o meu pai a barafustar pelo trânsito e pelos minutos de atraso que tínhamos
saído de casa. Nos entretantos lá conseguimos chegar à estação bem antes da
hora de partida do comboio. Já tínhamos pousado as malas e tirado o bilhete, e
eu dizia ao meu pai para se quisesse ir embora, no entanto ele resmungava que
não e lá caminhava em passos lentos, eternos, de um lado para o outro. E lá se
aproximava de mim e voltava outra vez a caminhar em passos mais lentos,
pesados, de um lado para o outro com uma distância cada vez maior, mas ainda
assim, mesmo da outra ponta observava-me, talvez preocupado com a chegada do
comboio.
Passado uns minutos, que pareciam
horas, vagarosamente lá chegou o comboio em que eu partiria. Aí, nesse
instante, ele se aproximou vigorosamente e me ajudou a transportar a carga das
malas para dentro do comboio. Depois das malas postas consegui ouvir a
respiração dele como de alívio, talvez pelo esforço das malas. Sinto de repente
um aperto no coração, talvez por causa da ansiedade da viagem e então
aproximo-me dele para me despedir com dois beijos, como sempre o fazia e ele
deseja-me boa viagem.
Ao entrar consigo finalmente ler
para onde se deslocava o meu comboio, em letras maiúsculas e bastante
luminosas: “CARPE DIEM”. Sem pestanejar entro e sento-me num dos bancos e aceno
para o meu pai, que se encontrava do lado de fora a acenar-me também. Enquanto
o comboio começava agora a arrancar, e eu permaneci a observar o meu pai até
que ele diminuía muito de tamanho conforme o comboio afastava-se, até que o
deixei de ver.
Assim sou de novo transportada,
agora para a realidade, enquanto vou aos poucos despertando e tomando completa
consciência. Consciência esta às vezes dura e cruel. Quando finalmente abro os
olhos e me levanto, levo minhas mãos aos olhos e sinto-os pesados e aguados.
Aguados e pesados pela realidade que ainda estava a começar a tomar conta de
mim, e assim termino percorrendo todos os compartimentos da casa à procura do
meu pai, para lhe contar o sonho que tivera, sem o conseguir encontrar.
A realidade toma conta de mim!
Escrito por: Rosalina Ribeiro a 22 de Março de 2014
1 comentário:
gostei da forma serena como foi escrito este Sonho...
É quase sempre dolorosa a realidade...mas a vida é isso mesmo...
brisas doces*
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